MP ouve traficantes suspeitos de pagar propina a policiais civis de Campinas

O Ministério Público (MP) ouve na tarde desta quinta-feira (1º) dois traficantes de drogas suspeitos integrarem a quadrilha de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, e de pagarem propina a policiais civis de Campinas (SP) e São Paulo (SP) para não serem presos. Os depoimentos fazem parte das investigações que resultaram, em julho, na prisão de agentes também suspeitos de extorquírem os traficantes na capital e no interior de São Paulo, além de sequestram familiares de criminosos para cobrarem o pagamento anual que chegava a R$ 300 mil, segundo relatório do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Nesta quinta-feira devem ser ouvidos o traficante Flaviano Lima de Oliveira, conhecido como ‘Aquiles’, considerado pelo MP o sócio de Andinho na distribuição de drogas, além de Carlos Alberto da Silva, conhecido como ‘Frango’, que seria o responsável direto pelo armazenamento e preparo dos entorpecentes vendidos pela quadrilha. Os interrogatórios estão marcados para às 13h  na sede do Gaeco, em Campinas.

Ainda de acordo com o MP, o traficante ‘Aquiles’ estava planejando um ataque aos promotores envolvidos na investigação. Ele foi preso em 15 de julho, quando o MP desencadeou uma operação conjunta com a Corregedoria da Polícia Civil para prender os policiais civis suspeitos de cobrar propina e extorquir traficantes da quadrilha de Andinho. Já o traficante ‘Frango’ está preso desde abril deste ano.

A investigação do MP começou em outubro do ano passado. Nove agentes do Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) ficaram presos em São Paulox (SP). Quatro deles foram soltos após prestarem depoimentos. Os outros cinco devem continuar presos até o dia 13 de agosto, quando vence o prazo da prisão preventiva expedida pela Justiça.

Outros dois policiais civis de Campinas Renato Peixeiro Pinto, o ‘Peixe’, e Mark de Castro Pestana, também ficaram presos por dez dias, mas deixaram a cadeia após o vencimento do prazo da prisão temporária. Eles foram afastados das funções de rua e prestarão serviços administrativos na área de cobertura, sem acesso a armas ou distintivos por causa do processo administrativo que enfrentam, segundo a Delegacia Seccional de Campinas.

Na manhã de quarta-feira (30), os três policiais do Denarc que ainda estavam foragidos se entregaram. Acompanhado de seus advogados, Daniel Dreyer Bazzan, de 35 anos, Leonel Rodrigues Santos, de 42 anos, e Silvio Cesar de Carvalho Videira, de 44 anos, se apresentaram na sede da Corregedoria, na capital. O Gaeco continua com as investigações.

Operação
Os policiais civis de São Paulo e Campinas foram presos no dia 15 de julho durante uma operação da Corregedoria e do Ministério Público para cumprir 13  mandados de prisão contra 15 agentes suspeitos de vazar informações para traficantes em troca de um pagamento anual que chegava a R$ 300 mil. No dia da operação, sete mandados de prisão foram cumpridos.



Já no dia 23 de julho, os promotores fizeram uma acareação entre traficantes e policiais civis presos na sede do Gaeco em Campinas, que durou cerca de oito horas. Participaram dos depoimentos os nove agentes que estavam presos na época, entre eles os dois de Campinas e o restante ligado ao Denarc. Cinco suspeitos de atuar no tráfico da região e três parentes deles, que teriam sido  sequestrados por policiais que visavam extorquir os criminosos, reconheceram seis dos sete agentes presos na capital paulista.

Os dois policiais de Campinas e outros dois da capital se recusaram a responder aos questionamentos dos promotores. A realização de acareações futuras não foi descartada  pela Promotoria.

Relatório
Um relatório do Ministério Público obtido com exclusividade pelo Fantástico aponta detalhes dos depoimentos de traficantes e familiares a promotores, além das transcrições das escutas telefônicas que revelam ações criminosas de policiais de Campinas e do Denarc. Em um dos trechos, o traficante Wanderson Nilson de Paula, o Andinho, diz que um comparsa teria pago R$ 2 milhões aos policiais.

Transcrições
Em uma das transcrições, o traficante “Cordorna” fala com Andinho sobre uma ação do Denarc que teria acontecido no dia anterior. Ele diz que os policiais de São Paulo teriam vindo novamente e levado R$ 20 mil, e que exigiam mais R$ 300 mil. Segundo o relatório do MP, “Codorna” é o operador do esquema de tráfico comandado por Andinho de dentro da cadeia.

Quando o pagamento feito pelos traficantes começou a atrasar os policiais do Denarc que, segundo o MP, estão envolvidos no esquema, teriam se revoltado e começado a sequestrar e torturar parentes dos traficantes para exigir que o acordo fosse cumprido.

Uma mulher identificada como Janaína relata, no documento, que foi sequestrada e torturada por policiais para que o traficante “Codorna” pagasse uma dívida. Segundo o depoimento, o policial do Denarc Leonel Rodrigues Santos teria dado vários socos e tapas no rosto dela, enquanto Silvio Cesar de Carvalho Videira teria usado uma máquina de choque para torturá-la.

Propina
O traficante “Codorna” também foi vítima de sequestro, segundo o relatório. Ele liga para comparsas enquanto está em poder dos policiais e diz que tem alguns problemas e precisa de dinheiro. Andinho fica sabendo do sequestro, e durante uma conversa telefônica confirma que “Codorna” já teria pago mais de R$ 2 milhões para os policiais.

De dentro da cadeia, Andinho dá uma ordem de retaliação e determina a “Codorna” que os fuzis da quadrilha sejam preparados para um eventual confronto. Ele ainda comenta a postura dos policiais, dizendo que são “mais vagabundos que os vagabundos”.

Fonte: G1





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