Obra de Millôr Fernandes ganha adaptação teatral em Campinas

“A história é um pesadelo de que tento acordar”, refletiu certa vez o romancista James Joyce. Para a atriz Talitha Cardoso, no entanto, o passado é fonte de inspiração: a condição humana retratada por Millôr Fernandes no fim da década de 60 em “O Homem do Princípio ao Fim” sustenta o espetáculo que entra em cartaz esta sexta-feira (18) no auditório do Instituto Educacional Imaculada, em guia da cidade Campinas.

A montagem pensada pelo jornalista e humorista perpassa a história – com ponto de partida em Adão – sem perder de vista os diferentes sentimentos gerados pela ditadura vigente no Brasil, bem como os anos de mal-estar social após a 2ª Guerra Mundial; enquanto que a adaptação conduzida pela campineira preserva a essência da reflexão, com foco na atualidade. “Puxa vida, o retrato político atual é uma das surpresas… Não posso dizer”, conta aos risos para instigar a curiosidade dos internautas.

Se o texto original era voltado para a interpretação de três atores e contempla a inserção de trechos produzidos pelo próprio Joyce, Gonçalves Dias e Shakespeare; a adaptação, conta a sobrinha da atriz Laura Cardoso, vai além: o elenco é composto por 50 integrantes ligados à escola (alunos de ensino médio, ex-alunos, professores e funcionários) e flerta com as manifestações culturais que surgiram ao longo das quatro décadas. Para tanto, a colaboração partiu dos próprios atores. “Houve a necessidade de adaptar a dramaturgia, já que nosso elenco é jovem. A ordem dos quadros, por outro lado, é a mesma”, pondera.

“Mais do que substituir “A Megera Domada” por “Romeu e Julieta”, a fim de atenuar a complexidade do espetáculo por meio de histórias mais conhecidas do grande público, o espetáculo dirigido por Talitha abre espaço para o enriquecimento da dramaticidade com interpretações musicais. “Muitos dos alunos sabem cantar ou têm domínio sobre algum instrumento. A oportunidade tornou-se um diferencial”. Dentre os diversos ritmos selecionados, há espaço para canções como “Chega de Saudade” de Vinícius e Jobim, e “Smile”, de Chaplin.



Simplicidade
Dividido em dois quadros, “O Homem…” é sustentado pela atuação de cada integrante, próximo de um aspecto curinga, a partir da transição dos atores pela vida dos personagens atribuídos à narração de cenas independentes. Quando trata da cenografia e maquiagem empregados na peça, Talitha repete o uso do adjetivo “neutro”. “Não há nada rebuscado, embora a emoção seja produzida pelo conjunto dos elementos”, resume sem adiantar mais detalhes, senão pela presença de escadas que se movimentam para compor novos ambientes, além de duas torres laterais.

O figurino, por sinal, é descrito em mesmo tom: “elegante, com uma base simples e variação de cores para responder às expectativas das cenas”. Questionada sobre qual das 10 esquadras implicou em mais dedicação durante os ensaios promovidos desde o mês de fevereiro, a diretora não titubeia. “Foi ‘O homem e seu Deus’. A gente espera emocionar com a mensagem de esperança”, cita entusiasmada. Os outros temas passam pelo amor, saudade, medo, solidão, riso e fim.

Carreira
Formada em Artes Cênicas pela Unicamp (1999-2002), Talitha confessa que o amor pelo teatro tem raízes na infância, graças à atuação da tia Laura Cardoso. A televisão, no entanto, é um espaço que não seduz a campineira. “O teatro é a minha paixão”.

Nos últimos quatro anos, a campineira conduziu os espetáculos “Sonho de uma noite de verão”, “Perfeitópolis, o Musical” e “A vida não para”, no Instituto Educacional Imaculada.

Serviço:
O quê: “O Homem do Princípio ao Fim”
Quando: dias 18, 24 e 25, às 20h
Onde: Auditório do Instituto Educacional Imaculada
Avenida Barão de Itapura, 1735, Jardim Guanabara, Campinas
Ingresso: R$ 10

Fonte: EpCampinas





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