Viagem musical: animação entre Jaguariúna e Campinas

Aos poucos, famílias e curiosos pela época em que trens movidos por carvão cruzavam o Brasil vão chegando à Estação de Anhumas, na cidade Campinas. Todos embarcam em direção a cidade de Jaguariúna, no único trem que ainda cruza nossas linhas férreas, promovendo um regaste da história das ferrovias no Estado de São Paulo.

No meio de informações históricas dos guias que acompanham os passageiros e as belas paisagens das antigas fazendas de café da RMC (Região Metropolitana de Campinas), um grupo de músicos oferece a trilha sonora ideal aos presentes, tocando músicas que marcaram o Brasil entre as décadas de 1940 e 1970.

Esse grupo tem o sugestivo nome de Nostalgia, e todos os seus músicos são residentes de Americana. Há quatro anos eles passam seus finais de semana e feriados cruzando a linha férrea composta por cinco estações, trazendo o passado de volta aos que viveram ou não a época em que os trens eram o mais popular meio de locomoção do país. “Nosso trabalho é embalar a viagem com música, num complemento ao que todos ali já estão vendo. Tocamos de tudo: samba, xote, forró, valsas, boleros”, explica Carmem Vendemiatti, de 55 anos e fundadora do Nostalgia.

Filha do músico Reinaldo Vendemiatti, que por vários anos foi integrante da Banda Municipal Monsenhor Nazareno Maggi, ela sempre nutriu o sonho de cantar, mas foi impedida por convenções de época. “Quando eu era jovem meu pai não me deixava cantar, a não ser na igreja. Mas eu tinha vontade de sair com ele e meus irmãos nas serestas da madrugada. Acabei casando e o sonho foi sendo adiado. Há quatro anos convidei alguns amigos e montamos o grupo. Meu sonho de cantar estava realizado”, afirma.



Hoje com oito integrantes, que se dividem entre sanfonas e percussões, o Nostalgia foi “descoberto” seis meses após sua formação por um diretor da ABFF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), que faz o trabalho história da viagem entre Campinas e Jaguariúna. Estava feito o convite que já dura quatro anos, completados neste mês de setembro.

Emoção
Uma cena que o grupo já cansou de presenciar são pessoas de idade mais avançada chorando ao ouvirem músicas da época da mocidade. “Muitos senhores e senhoras vão ao passeio relembrar suas viagens de juventude. Aí pedem uma música e nós tocamos. É o que basta para vir lágrimas nos olhos, porque bate aquela saudade”, conta Carmem.

Fã de cantores da era do rádio, o repertório do grupo dá espaço até à MPB dos anos 1970. O grupo só não gosta muito de sucessos recentes, que ocasionalmente são pedidos por jovens e crianças. “A gente até toca, mas acho que saí da ideia do passeio, que é essa busca pelo passado”, observa.

O grupo não é remunerado pelo trabalho, apesar de poder “passar o chapéu” ao final das apresentações, o que garante o custeio do combustível das viagens semanais. “Cada semana vamos com o carro de um integrante para não pesar muito”, destaca.

No começo de todas as apresentações, o Nostalgia se apresenta como um grupo “da cidade de Americana”, e por isso seus membros já pediram uma ajuda de custo ao Poder Público local para bancar suas idas a Campinas. “Cheguei a ir à Prefeitura e explicar o nosso trabalho, mas não obtive resposta. Uma pena”, lamenta a cantora.

Mas, com ou sem ajuda, o Nostalgia continuará trazendo o passado ao presente por cerca de uma hora e meia, que é o tempo de duração da viagem que desde 1981 percorre um caminho cheio de saudade, natureza e boa música.

Fonte: Jornal o Liberal





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