Ao invés de uma festa na cidade de Campinas, barzinho ou ida ao cinema, o cenário que aproximou o enfermeiro aposentado Carlos Alberto do Nascimento e o auxiliar administrativo Ivair Fernandes Barbosa, há 18 anos, foi o Hospital das Clínicas da Unicamp, em Campinas (SP). Com nomes gravados nas alianças, eles contam os preparativos para uma cerimônia que reunirá 54 noivos e celebram o início dos casamentos gays em cartórios paulistas, a partir desta sexta-feira (1º).
“Infelizmente nos conhecemos quando meu pai estava doente. Acho que a data é um marco para os homossexuais e, para nós, será uma espécie de bodas de prata antecipada”, conta Barbosa.
O primeiro casamento comunitário entre pessoas do mesmo sexo, em Campinas, está marcado para o dia 21, no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais do 3º Subdistrito. Na sequência, haverá uma confraternização no Museu da Imagem e do Som (MIS), no Centro.
O auxiliar administrativo, de 43 anos, lembra que conheceu o companheiro, de 52, após pedir transferência na empresa onde trabalhava em Cordeirópolis (SP). Ele conta que o casal possui o documento da união estável há dez anos, mas fará questão de participar da união comunitária. “Estamos ansiosos. Já compramos as roupas e, após o casamento, vamos comemorar em Ubatuba [litoral de São Paulo]”, adianta Barbosa.
Sobre a possibilidade do casal adotar uma criança, ele pondera. “Apesar de sermos favoráveis à ideia de que um filho deve ser amparado por um casal homossexual ao invés de estar na rua, não temos intenção”, explicou o auxiliar.
Em ritmo de tango
O jornalista e diretor da Escola Jovem LGBT de Campinas, Deco Ribeiro, de 41 anos, diz que gostaria de vestir traje semelhante ao usado pelo príncipe William no casamento com Kate Middleton, em abril de 2011. “Ficaria muito caro. Serei mais tradicional, vou usar um fraque”, brinca o noivo de Chesller Moreira, a drag queen Lohren Beauty.
O educador lembra que pediu Lohren, de 30, em casamento há sete anos, com presença de familiares e troca de alianças. “A gente decidiu esperar uma conjuntura mais favorável, sem brigas. Queríamos que o casamento fosse reconhecido como casamento”, define.
Ao mencionar o trabalho feito na escola que oferece cursos de drag queen, cinema e literatura para adolescentes, Ribeiro acredita que a possibilidade dos casais gays oficializarem a união, sem recorrer à Justiça, ajudará na quebra do preconceito.
“Antes, todos a partir dos 18 anos tinham o direito de casar no civil, menos os gays. A legitimidade do STF [Supremo Tribunal Federal] vai retirar parte desta carga negativa sofrida principalmente pelos jovens na família, estado ou igreja. Agora eu posso ser gay, porque isso é legal”, pondera o jornalista.
Ribeiro admite que ainda não escolheu o bolo e as novas alianças. Enquanto a noiva planeja o desenho do vestido para a festa, ele pensa no destino para a lua de mel. “Nossos amigos vão decidir este presente. Acho que será Buenos Aires”, arrisca em bom humor.
Legislação
A norma que regulamenta o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo foi publicada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) em dezembro do ano passado. A partir desta sexta-feira, casais gays que quiserem oficializar a união não precisarão recorrer à Justiça.
O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu o casamento gay em maio de 2011.
Fonte: G1